domingo, 5 de dezembro de 2010

DEVASSANDO O POETA


ENTREVISTANDO O POETA QUEIROZ FILHO
(Por Diego EL Khouri)

Poeta ligado a métrica e a rima sem deixar de ser contemporâneo. Esse grande sonetista nascido no interior de Pernambuco e que hoje reside em Loi Mendes - Minas Gerais me concedeu uma entrevista que consta na segunda edição do fanzine CAMA SURTA. Para entrarem em contato com sua obra é só acessar o link: www.naudasrapsdias.blogspot.com.

  1- A contradição sempre foi conjunto da poesia. Principalmente quando o poeta se equivale da linha marginal que foi aquilo que impulsionou grandes obras do gênero. O paradoxo é a célula da poesia. Até mesmo a destruição da linguagem e do tema nobre que caracterizou o século XIX e que criou aquilo que chamamos de decadentes, poesia maldita, delírio poético etc. Você sendo um poeta filho de analfabetos, nascido no interior de Pernambuco, longe portanto  do eixo São Paulo e Rio, sonetista  ligado a métrica e a rima, com linguagem ao mesmo tempo formal  e coloquial, como  se deve seu ato poético e o que te chama a atenção em poesia tanto na parte de apreciação quanto de construção poética?
Realmente, são óbvias em minha poesia algumas contradições, creio que isso se dá devido ao fato quase desesperador de retirar de mim todas as possíveis cascas que ocultam de alguma forma o meu espírito e aquilo que realmente eu sou, ou que ao menos, ainda acredito ser, e em contrapartida, compreender o mundo ao meu redor o suficiente para sentir-se em paz consigo e com ele. Em outras palavras, poderia ser: - Destruir-se para reconstruir-se, constantemente, descrendo de toda e qualquer verdade absoluta e fazendo de minhas idiossincrasias tão simplórias, a matéria bruta de meus versos. Já quanto as minhas preferências de leitura, bem, o poeta que mais leio hoje é Glauco Mattoso e que é um dos meus preferidos, senão, o preferido, mas essa admiração na verdade não se deu tão facilmente, pois, desde 2001, quando esboçava alguns versos às escondidas, aquilo que lia de poesia me tornou um purista em relação à temática e que eram poetas como: Petrarca, Camões, Bilac, entre outros, claro que tal concepção se fez existir em decorrência do Platonismo que está explicito nos sonetos de Petrarca e Camões, todavia, em Bilac aquele erotismo ardente, chamava-me a atenção, porém, o meu puritanismo temático me inibia, até que decidi ler com profundidade os sonetos de G.M. e, eis que ali me encontrei definitivamente e me libertei dessa auto-censura.
     2-    A poesia em contrapartida com outras artes, ou “pseudo artes” está um tanto esquecida. Você acredita que ela sempre será uma arte para poucos?  Em resumo, você acha que poesia não vende?


Em minha concepção a Poesia sempre será vista pela maioria como um mero subterfúgio do ego, ainda que os grandes gênios, mesmo que postumamente, sejam colocados em seu devido posto provando-nos o contrário, o seu espaço sempre será o canto mais estreito da prateleira da estante. Portanto, a meu ver ela pode ter o seu espaço, contudo, jamais alcançará a notoriedade de outra arte do mesmo quilate, como, por exemplo, da música popular Brasileira, ainda que se sirvam da mesma ferramenta. E se formos falar em questão de vendas em termos nacionais, ou em relação a outros estilos de escrita, ela esteve e sempre estará abaixo da média nesse quesito. Infelizmente, devemos admitir: - Poetas e fantasmas, relativamente, sempre terão um grau de parentesco!
3 -     Você costuma dizer que "viver por ela ( a poesia) e para ela haja o que houver". A que preço acreditar ainda nessa coisa “inútil” que é a palavra?
   Bem, como para mim a Poesia jamais será uma arte tarifável, então, sempre irei acreditar nela, seja escrevendo, ou não, eu estarei ao seu lado, pois da mesma forma que minha língua pátria sempre será a língua Portuguesa, a Poesia sempre será a minha mais real paixão, visto que na minha visão uma acaba se tornando da a outra, a forma e o fundo, respectivamente.
                                                                                                                        
  4- Qual a maior imprudência da sua vida?
Pensar que a vida é uma imprudência e também que em nossa Era, rudemente mecanizada, não haveria de forma alguma espaço para a Poesia.
5-  Acredita na influência do mundo transcendental no ato de poetar?
Na verdade transcendentalismo ou metafísica, até, então, nunca me foram objetos de reflexão, mas vejo-os atrelados a arte poética em inúmeras épocas, talvez, porque esses poetas, rigorosamente chamados de metafísicos, como o grande poeta Português: Antero de Quental, buscaram sanar as suas angústias existenciais em um plano além do que é convencional para os demais poetas, pois quando se questiona a existência de um ser supremo, (o que ele fez exaustivamente), por exemplo, tende-se a cair em um terreno obscuro de uma consciência primitiva. Presumo que haja tal influência, todavia, em raros poetas como aqueles de estro elevado como foi Antero de Quental. Já, em meu caso, a única influência avistada é a vida em todas as suas fases e formas.
6- Qual seria uma Morte gloriosa pra você?
 Aquela em que a lucidez não me fugisse no exato momento  em que eu estiver partindo e obtivesse, assim, por último impulso reflexivo a lembrança mais preciosa e pura de toda a minha vida: o sorriso de minha Mãe.
7- A internet, uma revolução na minha opinião, tão importante quanto a queda do muro de Berlim, pois vem modificando rápido a sociedade devido o acesso veloz a qualquer tipo de informação, mesmo assim você pensa que está ocorrendo uma espécie de censura?
Decerto, há um grau de censura, que se faz existir pelo simples fato de ainda haver, mesmo na literatura, (o que supostamente, não deveria), o falso pudor dos poetas e críticos de “boa higiene”, e como quem defini o que é, ou não, literatura, é a classe dominante, o modesto espaço para a poesia sempre será preenchida por algum poeta, “funcionário público”, usando aqui uma denominação de Manuel Bandeira.
8- Por que trabalhar com o soneto, essa forma tão pura e metrificada, conhecida pela sua roupagem idílica e romântica e resgatá-la para o mundo contemporâneo com uma visão ácida e às vezes até violenta da vida
O fato é que desde o meu primeiro contato com a poesia, os primeiros poemas que li eram de ordem fixa, e o soneto sempre foi para mim o “rei soberano” de todas as possíveis formas de verso fixo, embora não despreze o verso livre, o soneto sempre será para mim a melhor roupagem para qualquer temática que eu venha a usar em minha poesia, e como já disse, os temas que introduzia em meus sonetos, eram por excelência, vistos como nobres. Até mesmo a mitologia Greco-romana era para mim um artifício obrigatório, mas essa minha postura retrógrado em relação a temática e ao meu estilo poético, se foi  diluindo aos poucos, quando, recentemente, inseri nela, palavras de baixo calão e temáticas em certo ponto escatológicas, aliadas a uma linguagem às vezes coloquial e, em outras, formal, como você mesmo já havia constatado.                                                                                                        
9- Você afirma que o fato de sofrer de epilepsia e sua ida a São Paulo aos dois anos de idade  afim de tratar desse mau foi decisivo para que te levasse a poesia.  Na sua obra poética onde podemos encontrar raízes de uma infância no interior, aquela idéia pura e inocente  que existe longe das metrópoles, pelo menos em teoria, ou a paranóia da cidade grande foi mais forte para explodir sua arte em forma de palavras?
Na verdade, o motivo de sofrer de epilepsia não foi exatamente o fator decisivo para que começasse a escrever, pois como pode ver, são raros os poemas em que abordo a minha enfermidade, todavia, a ida à São Paulo, com certeza foi, uma vez que a base do meu conhecimento e meu amor pela poesia, se deram através  disso. Agora, a respeito das raízes de minha origem, vejo que apenas em alguns poemas isto se revê-la por meio de uma tentativa de recriar artificialmente o sotaque típico do nordeste, sem que haja nesses poemas uma temática voltada para a minha infância, ou ao menos, uma fidelidade ao sotaque Nordestino. Até mesmo porque morei em meu Estado de origem, somente até os meus 2 anos e tive o meu primeiro contato com a poesia, apenas aos 20 anos, quando já estava definitivamente morando na periferia de São Paulo, aonde já me consideravam um Paulista paranóico por natureza.
10 – Pra terminar quais são seus maiores medos e obsessões e se são elas o alicerce ou não para continuar iluminando a vida com aquilo que alguns intelectuais chamam de Poesia?

Talvez, hoje, pensar em meu futuro seja o maior deles, pois não consigo de maneira nenhuma prevê-lo, ainda que hipoteticamente, enquanto, os outros, de tão pequenos que são não merecem, sequer, a minha atenção. Enquanto as minhas obsessões ganham força, através desse tal medo, quando a todo o momento busco desesperadamente não estar sozinho na vida, por mais que desejasse ser um nômade errante, ou então, um rústico neandertal enclausurado em sua caverna rabiscando códigos na parede. No fim, noto que essas sensações estão, com certeza, atrofiadas ao meu estro poético, contudo, não precisam de minha razão para existirem, já que sabem mais do que eu cuidarem de si próprias.  

      Outubro, 2010






Um comentário:

  1. Poesia: subterfúgio do ego. Meu, que cara incrível, adorei esta entrevista! Os caras aí de cima quando dão pra ser inteligente, não tem pra ninguém. Admiro quem consegue se enquadrar nas matemáticas da métrica, mas eu sou anarquisada demais pra isso.

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