quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A CONSCIÊNCIA PERDIDA

(Por Ulisses Aesse)

Esse gonglo (oblongo)
surdo e sujo
lateja em minha
faculdade de percerber
a transformação das
uvas na química do vinho.
Não o contrário do meu
corpo, que pouco a pouco,
como incenso,
se esfumaça no ar.
Aqui não tem perdão.
Minha consciência
pesa mais que uma floresta
de sequóias e sua
várias espigas de milho.
Fui guelfo, pai de quatro
filhos homens.
Hoje sou seu naco, sua tibia
O badalo derradeiro
nessa cumeeira.
Ouço apenas (e sequioso)
o som monocórdio
dessa mesura de sempre.
Acorde de trombetas e seus
anjos do Apocalipse,
me convidam para o sepulcro:
a unção do resto que sou:
máscara macilenta do último
sopro de vida que soou!
A vênia para a morte
foi o que a vida me doou.
A medida que esqueço quem sou,
ressurjo não na terra dos lúcidos,
mas na habitada por uma legião
de loucos
onde é possível ver o regato
cheio de vestais
e suas cornuncópias douradas,
recheadas de homens e suas babas.
Seus olhos sem horizontes
contudo circulares
são oblíquos.
Suas mãos enérgicas
contudo sem gestos
são ágeis.
Eu sou eu,
espectro neste vaza-barris
do oceano de mim só Circe e
seus porcos encantados
que (desencantam tudo).
Dou a quem convir a síntese
do que fui, assim, desnudo:
Sou sumo
desta raiz.
E ela é cega.
Eu, verdugo dos céus,
com passagem marcada,
não tenho hora para
seguir.
Na verdade,
nunca vou:
apenas sou!

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