terça-feira, 25 de outubro de 2011

BOLSA DE VALORES, AUTOMÓVEL E ACADEMIA

(Por Rogério Skylab)


A homofobia contribui com seu anti-exemplo para entendermos outros fenômenos que, à sua luz, readquirem novos significados.

O excesso denuncia a falta. É a própria forma como essa se expressa. Como se tivéssemos uma imagem em negativo. Quem mata viado, mata, sobretudo, o imenso viado que lhe acua por dentro. O homofóbico não é só um viado enrustido: é um viado imenso com chifres pontiagudos a lhe espremer as costelas; um viado cheio de viço, como um bezerro maluco dando coice pra todos os lados.

Um homossexual pode ser um advogado, um médico, um professor de matemática. O homossexual é o sujeito mais correto que existe na face da terra. Eu sempre imagino um homossexual de bigode, usando terno e falando três idiomas. O fato de dar a rosca não lhe tira a dignidade. Eu gostaria de ter um presidente homossexual. E se meu filho fosse homossexual, eu teria por ele o mesmo amor que tenho pelo meu.

Quando se assume a homossexualidade é bonito. Porque um grande contingente permanece no armário. Se fôssemos computar os assumidos, não assumidos e enrustidos, passava da metade.

Os não assumidos preservam a imagem, trabalham em lugares públicos e convivem com sua sombra. Essa duplicidade não lhes provoca nenhum mal-estar. Acostumaram-se a dubiedade e seguem pela vida a fora separando o público e o privado.

A questão está no enrustido. Quando o seu desejo de “dar o cu” é sublimado, transformam-se em grandes artistas. Tornam-se muitas vezes assexuados. Enrustiram tanto, recalcaram tanto, que chegam a sofrer de prisão-de-ventre.

Outros enrustidos são tão viados, que ao custo de muita repressão, viram assassinos. A cada viado abatido, vangloriam-se. Uma sensação de alívio toma seu corpo. É um matador em série. A crise recrudesce quando, depois de passar o dia todo com o dedo no cu, saem à noite pra matar baitolas.

Mas o último caso de enrustido, motivo dessas mal alinhavadas linhas, refere-se aos que jogam na bolsa, têm carro do ano e fazem academia. São vaidosos por natureza e estão sempre bem acompanhados. É o nosso velho playboy. Todo o mundo feminino, do qual a vaidade é sua maior expressão, explode dentro dele. Redirecionam então para signos masculinos. Não são assassinos mas estão sempre se dando bem. Basta um dos três signos para o identificarmos. Mas caso abrace os três de uma só vez (bolsa de valores, academia e carro do ano), aí então sua viadagem chega a graus elevadíssimos. Só não é matador em série por um triz (naturalmente, muitos acumulam a função de matador, playboy e artista).

É por essas vias indiretas que podemos compreender a bolsa de valores, o automóvel e a academia.

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