quinta-feira, 1 de março de 2012

NEM DOSTOIEVSKI IMAGINAVA

(Por Diego EL Khouri)

Noite de bebedeira.Um cheiro forte de cachorro molhado tresanda as janelas da sensibilidade e sem que ninguém veja  El Khouri molha a boca de cerveja como se fosse o último gole da noite acompanhado de um arroto leve numa cerimônia fingida de lirismo onde copos se esbarram e riem de seu estado vulgar e nenhum pouco fingido. Mas é uma molhada mais delirante que real. Ele está impossibilitado de qualquer ato ousado. Sua calça fede volúpia de Morte ferida e seus olhos estagnados, devido a semanas de orgias químicas, respiram desencontro, a mão suada como sempre, pernas frágeis e o veneno da boca, tudo anuncia a poesia que não cala, de uma boemia sem traumas. É tudo abaixo do limite perimitido da embriaguez. É preciso subir essa nova escada. Não há motivo pra ser coerente. A vida é um espelho que por incrível que pareça tem características de peça iquebrantável. Um teatro a la Antonin Artaud, a armadilha que faltava.

Um dia foi fome, luta pela sobrevivência, mau estar, medo, doença na família. Oito anos desgastados. Uma flor fechada sem vísceras poéticas, apenas uma emorróida fosflorescente no cume da madrugada que não enxerga nada. Foram assim os dias inférteis nas grades da benevolência. Um emprego metódico sem graça, corrupções, trocas de favores, humilhações, desentendimentos e os calos na mão e na mente que não somem. Agora aqui, carcomido e fudido, a escória energúmena da cachaça perdida, o azedo da vida enfileirando dias e dias e dias e dias nessa agonia sem fim. Cheiro forte de cachorro molhado. A pele sensível pela cannabis que de vez em quando vem aí bater minha porta; "-que visita agradável essa ordinária plantinha!" A bunda pra cima e o sol surgindo começando a colorir a face do jovem El Khouri, o funcionário perfeccionista, caxias e que só acende o cigarro na saída do emprego e que abaixa a cabeça quando o patrão o humilha, vítima de seu desvario, uma noite ruim de sexo.

O gosto do ácool na boca. Pinga brava é aquela que seca o organismo. Essa secou tudo. Porra! parece que começa enfim a sentir partes úteis de sua massa encefálica! "Não há ideia nem fato que não possam ser vulgarizados e apresentados a uma luz ridícula". Nessa máxima de Dostoievski El Khouri se veste como se todo seu corpo fosse a barba da insatisfação. E a bunda virada pra cima. Flechas de sol escaldante penetram o cu desavisado da insanidade. O jovem bêbado, caído perante o dia que se anuncia. É de uma satisfação tremenda mais uma bunda virada para o sol. Prova que os alcóolatras são únidos a beça.

5 comentários:

  1. É o retrato falado (no caso, escrito) da claustrofóbica e anêmica condição da boemia intelectual. Flashes de uma realidade cujos instantes nus flertam com o continum mascarado.
    Muito bom.

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  2. Duas vidas, em um só...viver intensamente o que se quer viver e sobreviver para viver...

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  3. "E sobreviver para viver!"
    Amo você e espero que sobreviva as suas orgias químicas.
    Estarei sempre aqui alerta e pronta para te dar a mão, o ombro... o que você quiser de mim, porque meu coração já é seu.
    Viva tudo que quiser, mas sobreviva, Diego!
    E não esqueça: estarei sempre ai pra ti!

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  4. Deliciei-me com esse texto. Me sinto assim nessa vida boemia, mesmo não abusando da química ...é a mesma coisa!

    Anna Alchuffi.

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