quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MERDA NO VENTILADOR

(Por Luiz Carlos Barata Cichetto)

Muita gente me critica pelo fato de eu estar sempre jogando merda no ventilador, mas a merda que eu jogo é a deles, por isso que reclamam tanto e se sentem tão ofendidos. Em uma entrevista ao poeta e zineiro Diego El Khouri, o poeta Glauco Mattoso afirma: "Eu diria que, sendo o Brasil um país bem vira-lata, quem quiser assumir o rotulo de 'sujo' tem mesmo que estar um pouco acima da media... Mas ser um poeta sujo não é apenas chafurdar na merda: é saber jogá-la no ventilador, saber fazer dela boas tortas para atirar na cara dos politicamente corretos.". Concordo completamente com ele, mas preciso acrescentar neste contexto que muita gente liga o ventilador, apanha a merda e a espalha, mas não basta jogar a merda de volta na caras das pessoas a própria merda que eles produzem, é preciso fazê-las sentir que aquela merda toda é deles mesmos, não de quem a colocou no ventilador. Seria quase que o mesmo efeito da tortura de Alex, personagem de Laranja Mecânica, causar o asco pelo próprio feito. No livro de Burgess e no filme isso não dá resultado, anulando o que chamam de "livre arbítrio", tornando o ser incapaz também de gerar o bem. E na tortura pelos métodos de "merda no ventilador" funcionaria? Os torturados se sentiriam enojados pela própria merda a ponto de não mais produzi-la? O que a sociedade produz é apenas merda, no final das contas. Tudo vira merda! Tudo. Até mesmo o pensamento dos intelectuais, a musica, a poesia, tudo. Tudo acaba se transformando em merda pura. E artistas, que não são aqueles que como os poderosos se locupletam com a merda produzida por essa sociedade, como poucos que ainda existem, como é o caso de Glauco Mattoso e outros, sendo que nesses outros também incluo sinceramente a mim mesmo, precisam pegar essa merda toda e jogar no ventilador com toda a disposição. Existimos num país de fracos, doentes e incultos. Muita merda é que existe. Então precisamos de mais ventiladores.

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Pessoal Mas Transferível
Barata Cichetto


Thomas Eakins (1844-1916) Old Man Said To Be Wal Whitman
- Acorda, preguiçoso! Corta o cabelo e arruma um trabalho
E aproveita e corta essa barba, seu vagabundo do caralho!
Não tem respeito quem não madruga em fila de emprego
Escuta o que falo ou preciso falar em russo ou em grego?

Ah, mas que tolo fui eu em acreditar naquilo que eu podia
Minha arte não dá dinheiro e a cada poesia mais me fodia
Com escrita nunca recebi sequer uma moeda de um real
E o mundo que conheci acabou, agora o mundo é surreal.

- Acorda, filho da puta! Nesses dentes podres dá um jeito
Ninguém precisa de poesia e poeta não é um bom sujeito
O trem funciona desde as cinco da manhã, todos os dias
E estou farta de suas poesias e de suas eternas covardias!

Esqueci o que sabia e não aguento mais subir descidas 
Precisamos de comida e as contas estão todas vencidas
Eu preciso provar que não sou um ladrão ou vagabundo 
Ainda arranjo um emprego nem que seja um moribundo. 

- Acorda e manda currículo, qualquer emprego lhe serve
E peço em nome de Deus, que seu emprego lhe conserve
Lembra da senhoria, paga as contas de luz e o crediário
Deixa portanto essas histórias de poesia, Poeta Ordinário!

Hoje pensei em abrir o gás do fogão e tal a Torquato Neto
Enfiar a cabeça deixando um bilhete de adeus bem direto
Mas não tenho coragem, deixo que me matem aos poucos
Pois tenho a covardia dos poetas e a coragem dos loucos. 
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Leia Também a Entrevista de Glauco Mattoso a Diego El Khouri: 
http://fetozine.blogspot.com.br/2011/07/glauco-mattoso-o-poeta-da-crueldade.html

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* Retirado do blog http://baratacichetto.blogspot.com.br/ de Luiz Carlos Barata Cichetto)

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