segunda-feira, 17 de março de 2014

ANTOLOGIA VELOSO




Para comemorar o Dia Nacional da Poesia a Editora Veloso lançou uma antologia poética e fui um dos selecionados. Abaixo om link para comprar o livro, a foto da capa e meus  poemas:

http://livrariaveloso.lojaintegrada.com.br/







Abaixo os meus três poemas selecionados para a Antologia Veloso:


TAL QUAL CORDA BAMBA


eu atravesso oceanos
na calda de ninguém
mamute que destroça cimento
nos dentes de marfim no ouro de alguém
eles são fuzis
fezes
sangue coalhado de criancinhas famintas
acolhidas pelo crack
lembro muito bem
aquele  inverno de 2004
porres incompletos, beijos frívolos
Rimbaud sobre a mesa
e paredes
muitas paredes
se fechavam cada dia mais
pela masturbação proferida a ti
naquelas madrugadas
de torcicolo brutal
eu agarrando estrelas
numa minúscula cama suja de sêmen e bílis 
tal qual corda bamba
cometas em festa comum

ah madrugada!!
o que poderia dar a ti
se de mim roubaste tudo?
lamentaste a sina bandida
que és
levaste tudo embora
inclusive meus crimes
e as dívidas de mercado
para sucatear meus sonhos
que viraram cicatrizes na barriga
e apendicite supurado

são inconfundíveis
os olhos dessa terra
 esses meninos nos sinais
a implorar migalhas
que a sociedade atropela

corpos descartados
deixados de lado
minoria nojenta
fede e tritura
qualquer pensamento
de libertação

ah madrugada
dos sonhos impossíveis
trouxeste a quimera que pedi?
quero sexo em ventre e alma
a tentação me veja como alvo

e me beije a face mil olhos
de  vulcão, tempestade, estrelas
é tudo a mesma coisa
o mesmo cheiro

pelos, entranhas
língua na língua
descobrir teu corpo
alimentar tua sina

ó madrugada linda
que clareia meus olhos
és amor e paixão
misturadas com fogo e pele

nos marcaram como gado
trataram de espalhar nossas dívidas
 nos apunhalaram pelas costas
e rasgaram  nosso tratado
vilmente sem repeito algum
a nossa história

madrugada insonsa
covarde
as palmas de minha mão
cobrem orelhas
ajoelhado no centro da cidade
uma chuva torrencial
lava meus cabelos e minha alma

não há motivos para acreditar
no pai nem no estado
me fala a luz dos semáforos
repleta de mentiras e sonhos

não creio em inferno ou pecado
a poesia comportada
muito menos em gêneros comprados

porta voz das portas escancaradas
e venenos tóxicos
eu desafio as regras lambendo  feridas
desconexas 
do outro lado da moeda (!!!)
(ninguém me ouve, ninguém me vê)

assim espero.

(Diego El Khouri)


AOS POETAS QUE AQUI CIRCULAM


já me vi dentro desse colo abafado
na subtendida palavra
até o útero onde me abrigo e embriago
cada gota de pecado
quero a tentação do meu lado explorada
cintilante paisagem
permaneço sereno em seus olhos apaixonados
não me vendo ao acaso
faço do meu tempo, da minha história
uma viagem inimitável
(atitude inevitável)
Abro os braços...
tá vendo de camarote, ó linda paisagem?
(olhares ríspidos, conveniências, miragens)
 e a hipocrisia que escapa de alguns poetas
que a cada dia transformam seus poemas-porradas
em meras bonitinhas palavras.

(Diego El Khouri)

DENTRO DE TI


Fazes de meu corpo casulo.
Teu ventre minha coberta.
Pele branca, nudez pronta.
As línguas se lambuzando.

Depois tuas pernas no meu ombro.
Com os seios vai beijando.
É linda a madrugada de setembro.
Nossos corpos se encaixando.

Sorris um sorriso parecido com pranto.
Pranteia a lua, a tarde vai se pondo.
Somos dois amantes à deriva.
Nossos quadris se entrelaçando.

Com um leve toque de mãos
tomba a noite (a noite) e o dia insano.
Fazes de mim objeto estranho.
Dentro de ti eu vou entrando.

Finda a existência.
Eu morri e bem sei que também morrestes.
És de uma beleza sem precedentes.
Tu vais se lambuzando no meu leite.

Boca e língua, pele e pelo, pelo e pele.
A nossa cama está repleta.
Estrelas, vozes e desejos.
És linda, lasciva... Ah, és perfeita!

Mordes no pescoço, solto os braços.
Te aperto contra o ventre.
Continua os movimentos contínuos.
Essa é a nossa ginástica, essa é a nossa agonia.

Tu agora de bruços.
Bunda pra cima, boca pra baixo.
Com um apelo super apaixonado
vou devassando teu íntimo.

Não há mais vozes e sutilezas.
 Deitada na cama, tu és uma princesa.
Tuas pernas trêmulas, voz rouca.
Roubamos o infinito para nossa surpresa.

* * *

Meu corpo deixou de ser casulo.
Teu ventre não é mais coberta.
Volto para casa pálido e sozinho.
És linda, porém a noite é mais bela.

(Diego El Khouri; Maio, 2009)

2 comentários:

  1. Tanta liberdade tu clamas e tantas vidas vc reclamas... Roberto Piva poderia ler isto...Eu fiquei (como sempre) paralisado, sem argumentos ou palavras depois de ler isto.; Qual seria seu amor mais intenso: Pintura, poesia... vida como arte e vice versa... Parabéns ...

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  2. As poesias são densas de uma intensidade que ultrapassa qualquer dimensão, Também não creio em inferno ou pecado.
    Lágrimas de emoção no primeiro poema onde vc diz
    "ah madrugada
    dos sonhos impossíveis
    trouxeste a quimera que pedi?" I
    isso tocou profundamente a minh'alma que chora sobre mim e não entende a vida,

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