segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

JÚPITER MAÇÃ (26 DE JANEIRO DE 1968 - 21 DE DE DEZEMBRO DE 2015)

Hoje faleceu um grande artista: Flávio Basso, também conhecido como Júpiter Maçã ou Jupiter Apple. Aproveito para compartilhar com vocês um texto do Skylab sobre esse controverso e brilhante artista:

JÚPITER MAÇÃ

Por: Rogério Skylab

1- Jazz fusion, samba-jazz, música celta, medieval, judaica, psicodelia, rock de Manchester, rock de Detroit, Nuggets, canções jazzy de cabarés franceses e alemães, minimalismo, folk, música concreta, slogan-art, Beatles, Stones, Birds, Stereolab, Syd Barret, Bob Dylan, David Bowie, Lou Reed, Mutantes, Tropicalismo, Jovem Guarda. Bossa Nova, Ficção Científica, Cinema, Artes Pláticas, Semana de 22, psicotrópicos, beatniks, sexo, mentiras e vídeo-tape.

Querer abarcar essa gama de variações, é bem próprio de um espírito camaleônico. Para tanto, um ônus: a angústia da síntese. Como recensear tudo isso?

Júpiter Maçã é um espírito raro. Basta que passemos em revista artistas e bandas de rock. Cada um buscou a identidade, valor máximo que um artista pode pleitear. E de nada terá valido tantos anos de estrada se não for alcançada essa voz própria, pela qual se possa ser reconhecido.

E quando a identidade deixa de ser o paradigma? Quando, ao contrário, a quebra de expectativa passa a vigorar numa carreira, gerando inclusive muitos mal-entendidos. Como é que fica? Uma identidade que se construiria a partir de múltiplas máscaras. Esse é o caso de Flavio Basso, vulgo Woody Apple, vulgo Júpiter Maçã, vulgo Júpiter Apple, vulgo... Apple Sound?

2- Começou no TNT. Banda gaúcha, ainda da década de 80. Júpiter chegou a gravar com ela apenas na Coletânea Rock Grande do Sul, mas antes do primeiro disco da banda, veio a sair, nem chegando a gravar, ainda que tivesse composto todas as músicas desse disco. O motivo alegado da saída: a banda não comprou a idéia das músicas de sacanagem. E de fato, no segundo disco da banda, já sem a participação de Júpiter, não vamos encontrar esse universo. É o caso de “A Irmã do Doctor Robert”; “Charles Máster”; “Baby, eu vou Morrer n’outro Planeta”; “Dentro do meu Carro”.

Um ano após o lançamento do TNT, os Cascavelletes, sua segunda banda, lança seu primeiro disco e pela BMG. Estamos em 1988, e entre músicas como “Menstruada”, “Carro Roubado” e “Morte por Tesão”, todas diretas e sem subterfúgios, um caso raro na música brasileira onde a censura das majors vinha substituir a dos militares, a música que acabaria se destacando seria “Jéssica Rose”. E o curioso é que se destaca não pela linguagem picante que predomina no disco, mas porque abre um espaço de diferença no meio de um rock primário – um folk da pesada, estilo que estará, a partir daí, arqui-presente.

A primeira demo da banda data de antes. VORTEX é de 1987. Aqui predomina a sacanagem. “A Última Virgem”, “Estupro com Carinho”, Minissaia sem Calcinha” são símbolos de uma geração que não era representada pela mídia. E Júpiter foi seu porta-voz, ainda que corresse o risco do precário. Nem Mamonas, nem Raimundos foram tão diretos. A sua co-irmã Graforréia, não fosse a guitarra de Birck, soaria politicamente correta e sem alma.

Mas em 1989, meses depois de uma demo gravada no Rio de Janeiro, surge o disco mais importante dos Cascavelletes e foi pela EMI-ODEON : Rock’A’Ula. Na sua maior parte, predomina o estilo sacanagem que acabou dando à banda sua principal marca. Mas apesar da punhetinha de verão da “Nega Bom Bom”, ou da sente no meu colo, pise no acelerador da “Cão e Cadela”, tem também: “Gato Preto” – original até debaixo d’água –; “Sorte no Jogo, Azar no Amor”, que se Bruno e Marrone escutassem, iriam querer gravar; “DISCO” que também é um estilo, ao qual, Júpiter, pensando na pista, sempre irá recorrer; sem contar com as belas “Jéssica Rose”, já conhecida, e “Lobo da Estepe”.

Depois, surge a demo dos Cascavelletes, datada de 1990. Das sete músicas apresentadas, “Rosas de Amor” é de longe a mais interessante, num entrecruzamento bizarro de Ian Curtis e Johnny Cash. O restante é irregular. Mas ainda assim, dentro do seu primitivismo, podemos já realçar uma marca que o diferenciava, por exemplo, da Graforréia Xilarmônica, banda gaúcha que participava da mesma cena: a sinceridade rasgada. Nada mais beat. Era uma ingenuidade valiosa, que refletia inclusive no timbre da voz – já tive a oportunidade de comentar, aqui neste mesmo blog, sobre a questão da entonação. Nesse sentido, o compositor é sempre o melhor cantor.

Na segunda demo, um ano após o lançamento da primeira, se destaca “Lobo da Estepe”. A versão de “I feel Good” é também genial, e “Se eu fosse Mulher” tem um verso símbolo que, não só prepara para o que virá no futuro, como também expressa essa valiosa ingenuidade da qual nenhum grande artista poderá se apartar: “Se eu fosse mulher/seria infiel,/teria mil amantes na torre de babel”
Depois, em 1992, surge um compacto com as músicas “Sob um Céu de Blues” e “Homossexual”. 


3- Entre 1994 e 1995, com uma banda do Mato Grosso, Os Pereiras Azuis, Júpiter começa a preparar o repertório de um futuro disco solo (essa experiência foi inclusive registrada).

Até que em 1996, pelo selo Antídoto/Acit, com produção de Egisto Del Santo, e Glauco Caruso na bateria e percussão, Emerson Caruso baixo, e Júpiter no resto (guitarra, violão, craviola de 12, teclados, harmônicas e vocais), sai o seu primeiro disco solo: Sétima Efervescência. E é um corte. Foi eleito, pela Revista Rolling Stones, um dos 100 discos brasileiros mais importantes de todos os tempos.

A primeira coisa a se ressaltar: a coragem da ruptura. O que poderíamos entender até como traição. Se na fase anterior predominava o puro sexo, a imagem direta, aqui é outro o paradigma: o psicotrópico, a ambigüidade e o espaço mental.

Em comparação à fase anterior, ocorre uma sublimação. Conversar talvez seja mais importante que trepar. A amizade e o amor expressam um espaço abstrato que se abre agora, sem que para isso seja necessário eliminar a intensidade vivida.

A música símbolo é “Eu e minha Ex”. E tal como o título indica, não é mais uma relação unívoca: talvez sejam um só de novo em outro planeta, dimensão, circunstância e situação. É a ingenuidade valiosa capaz de dizer na cara o que por si só é tão complexo. E os dois estão falando sobre suas vidas. E o que eles querem mesmo é amizade. Essa superação que é tão difícil e da qual ele desconfia não ter conseguido ainda efetuar. É uma relação ambígua, complexa, entre ele e sua ex. E no entanto, é sua ex: ela tem novas idéias, discos, filmes, diferentes de quando ele opinava.
A estrutura da música é bipolar ( a primeira parte é bem diferente da segunda). O arranjo sinfônico de Birck convive lado a lado com o rock dos Beatles (Birck, aqui, é o George Martin de Júpiter). E a música, tal e qual o texto, tal e qual seu arranjo, tal e qual a carreira de Júpiter, não é mais unívoca. Essa complexidade, à que se agrega a psicodelia, mais um elemento novo do qual Júpiter não vai mais se afastar, corrobora no sentido do distanciamento do real. O outro é o próprio eu, com o qual ele conversa em “As Tortas e as Cucas” – “falei com a minha sombra”. As mulheres são os psicotrópicos (Querida Superhist e Miss Lexotan). Ao invés do cadilac e da moto, novos espaços planetários (Sociedades Humanóides Fantásticas) e um lugar do caralho.

Ainda que “O Novo Namorado” resista monocórdio, o novo paradigma é a “Essência Interior” – aqui, no espaço sincrônico da canção, ele se masturba mas está ligado na essência interior dela. Essa duas imagens contrárias, lado a lado, dão o tom à Sétima Efervescência e a fazem bem distante dos Cascavelletes.

Qual outro artista brasileiro terá empreendido tamanha mudança? Vale acrescentar aqui a música medieval de “Canção para Dormir”, a bossa nova que se introduz em “Sociedades Humanóides Fantásticas” (it’s a skylab) e a colagem em “Sétima Efervescência Intergaláctica”. Finalizar o disco com a colagem é de uma certa forma afirmar a referida técnica. As partes diferentes de qualquer música sua, a partir daqui, sugerem mais um processo de colagem, tamanha a diferença entre elas, do que um desenvolvimento orgânico.

4- Plastic Soda, de 1999, fim de século, é uma nova virada. Ele já anunciava em “The Freaking Alice”, que por sinal tem o verso mais poético de sua obra – seus pezinhos embarrados por pintora. Mas nessa música, ele afirma: “toda mutação acaba sendo evolução”. E ele agrega agora a bossa-nova.

O disco, elogiado por Caetano e Tom Zé, receberia alguns prêmios: troféu Açoriano do RS e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). A essa altura, Júpiter se afirmaria como um dos nomes mais importantes do sul. A maturidade é expressa em versos como: “ Talvez não vá demorar muito tempo,/ a sombra de um homem crescido surgir”, em “Welcome to the Shade”. O disco, todo composto em inglês, confirma a trajetória de sublimação, iniciada em Sétima Efervescência. Em “Over the Universe”, ele diz: “Fonte do amor astronômico metafísico,/ o foguete toca o céu/ e vai diretamente do meu coração para o seu”. Uma outra face dessa sublimação, o real passa a ser reflexo do eu: “ Você vê o rapaz e a empregada em flor,/ talvez sejam apenas seu reflexo o tempo todo”, em “ A Lad & a Maid in the Bloom”.

Se algumas canções continuam a experiência da psicodelia do disco anterior (“Sambe Groove Theme”, “24 Hours Nude”, “Head Head”, “The True Love of the Spider”), a novidade serão aquelas limpas de distorção e que acentuam a beleza das canções. É o caso de “Morning Intuition Man”, ainda que nesta, além das cordas e da voz a nos dar a sensação de distorção e desafinação, tem também em seu final uma colagem de sons, artificialmente introduzidos, que sublinham o caráter complexo e experimental de sua obra. Mas, “Bridges of Redemption Park”, “Over the Universe”, “Plastic Soda” e “Welcome to the Shade”, mostram um outro lado do compositor: são canções limpas, belas e tranqüilas. O que não diria dessas canções o libidinoso adolescente que se criou ouvindo Os Cascavelletes?

5- Quando aparece Hisscivilization, o susto não foi menor. Também pudera. Se quase foi abolido aqui a psicodelia, por outro lado são agregados o minimalismo e a música concreta. O texto perdeu sua importância. Se no disco anterior, composto em inglês, o texto já perdia força, podíamos apenas flagrar aqui e ali bons achados poéticos, já em Hisscivilization, Júpiter se debruça no som e produz um disco digno de um Egberto Gismonti ou Edu Lobo. Disco de texturas e muitas camadas, onde o teclado (sintetizador, órgão e moog) é arqui-presente. Não podemos esquecer aqui Cuca Medina no primeiro e Astronauta Pingüim nos outros dois. 

A voz feminina (Thalita F Jones) torna-se importante nesse disco e deixa de ser presença secundária. Além disso, valoriza-se a linguagem oral, é o caso de “Overture and the Something Else” e “In the Presence of Zogh Zucchini”. Em “Metrópole”, o riso feminino e espontâneo ao final da faixa, procedimento ao qual Júpiter vez por outra se utiliza, mostra o quanto seu trabalho assimila o acidental.

Se a música concreta e industrial estão presentes, principalmente ao final das faixas, como é o caso de “Homeless and the Jet Boots Boy”, “Overture and the Something Else”, “In the Presence of Zugh Zucchini”, também nessas o minimalismo, que nos remete a Philip Glass, marca presença.

Foi mais uma virada porque, se no disco anterior a novidade eram as belas e simples canções bossanovistas, em Hisscivilization Júpiter retoma o que talvez seja sua maior característica: a complexidade, seja da própria composição, constituída de partes bem diferentes entre si, seja do arranjo, integrando diversas técnicas numa mesma faixa.Essa saturação de elementos me faz lembrar a banda de interior que é inserida ao final de “Pyrus Malus et Fragaria Vesca”.

6- Bitter aparece em 2007, na verdade sua gravação é posterior ao disco que viria em seguida. Mas serve como mais um contraste. Desta vez não é Thalita, é Bibmo. A gravação é feita numa tomada só, os arranjos são simples, e o camaleão nos oferece um desfile de máscaras. Um retorno ao velho rock and roll, do qual seus fãs se sentiam ausentes. Simples e coeso. Bob Dylan reaparece em diversas faixas: imitá-lo, como Júpiter o faz, pode dar a dica do seu método de trabalho. Mas não é só Dylan. Em “Clowns”, Johnny Rotten; em “Exactly”, que já constava do disco anterior, os irmãos Gallagher; em “Down Mith Girl”, Lou Reed. Descubra você onde está Iggy Pop, ou David Bowie, ou Jefferson Airplane.

Me diziam, algum tempo atrás, que Júpiter só olha o umbigo. E foi mesmo essa impressão que tive ao ser entrevistado por ele na MTV. Ao menos o Jô estuda antes a pauta, há uma pré-entrevista, ele não entra vendido no lance. E naquela entrevista da MTV, ou a produção não deu a Júpiter as informações, ou se deu, ele desconheceu. E entrou vendido no lance. Ali, tive a certeza de que o umbigo é o seu livro. Mas ao me debruçar em sua obra, mais uma rasteira. Porque seu trabalho é justo o contrário: não é seu umbigo, é o mundo; seu método de trabalho é quase uma mímesis e Bitter nos mostra isso com clareza. 

7- “Uma Tarde na Fruteira” é sua obra prima. Súmula das súmulas, o camaleão finalmente consegue dar a síntese dos caminhos já trilhados. Era a angústia do camaleão: fazer o recenseamento; colar o espelho partido. Porque se sua essência é a fragmentação, sua angústia também o é. Daí seu desejo de juntar pedaços. 

Se nos discos anteriores, esse desejo se manifestava, ainda assim estava longe do equilíbrio alcançado agora.

Mas a sensação de rasteira que sempre sentimos ao nos debruçarmos sobre ele, estranhamente, aqui desaparece. Justo na sua obra prima, na súmula das súmulas. Até em suas apresentações ao vivo, que faziam muitos dos seus fãs se descabelarem revoltados, a rasteira era aplicada. Nunca a apresentação era a reprodução do disco. E nem havia como ser. Não só pelas dificuldades técnicas, mas principalmente pelo seu modus operandi: sempre ser outro. A justificativa das drogas e do álcool é secundária. Se não fossem eles, seria outro o motivo. Mas o Júpiter do disco não é mesmo o Júpiter ao vivo. E isso se integra ao sentido geral do seu trabalho.

“A Marchinha Psicótica do Dr. Soup” serve como uma bela alegoria do espelho partido: é o mosaico de imagens mil. No disco, a língua portuguesa é retomada. A palavra é sempre mais conservadora que a música. O que não dizer então da imagem, mais conservadora ainda porque congela à superfície o movimento profundo dos sons. E esse é o disco mais plástico de Júpiter.

Mas a imagem, ainda assim, é complexa: Woody Allen, Allen Ginsberg e Bob Dylan num mesmo ser.

Em seguida, o “Tema de Júpiter Maçã” retoma o recenseamento. Não é à toa que, mais adiante, em “Mademoiselle Marchant”, música de estrutura complexa onde a primeira parte, constituída por acordeon e judaísmo, dá lugar a um rock sessentista, ocorre esse verso: “existe antiquários hoje em mim”.

E cada faixa traz à tona uma faceta já explorada: a música celta (“As Mesmas Coisas”, “Plataforma 6”), a MPB tropicalista (“Uma Sorvete com Você”), o orientalismo (“Beatle George”), a bossa-nova de Sérgio Mendes (“Carvão sobre Tela”), o samba-jazz (“Plataforma 6”), a música judaica (“Mademoiselle Marchant”), a música eletrônica (“Base Primitiva”), a música de pista (“A Menina Super Brasil”), a música concreta (“Viola de Aço”), o folk (“Little Raver”), o jazz-fusion (“Plataforma 6”), a psicodelia (“As Mesmas Coisas”), o minimalismo (“Viola de Aço”). Neste último exemplo, incide uma outra faceta já comentada: a incorporação de acidentes, erros e acaso (uma falha no equipamento leva Júpiter a improvisar um folk, no qual, fala do defeito e o insere na música).

Mas nada se compara à “Casa de Mamãe”. Se em Sétima Efervescência, “Eu e minha Ex” é a música-síntese , exprimindo uma nova relação – eu e minha ex – mais complexa e menos direta, “Na Casa de Mamãe” é a consolidação de um estilo. É o que há de mais bipolar na MPB, seja na estrutura melódica, seja na estrutura poética.“Me sinto um pouco decadente, mas com estilo”. As frases de Júpiter são sintéticas, no melhor estilo inglês, e isso vem desde sua aprendizagem no TNT e nos Cascavelletes. Mas aqui ele se supera. Como se a decadência estivesse ligada a esse esforço de fixação de um estilo, um esforço de identidade. Ainda que permaneça cult underground, como na marchinha, ele já visualiza em 2020 a sua transformação para hit nacional. Na Fruteira, sua ansiedade é finalmente estancada. Se chá e cachaça, ou, serenidade e histeria, perpassam a “Casa de Mamãe”, não haverá melhor retrato de uma obra que primou pela diferença e pela identidade. E se minha abordagem optou acompanhá-lo desde os primeiros passos, tentando flagrar mutações e desvios, sobretudo suas imitações, foi sempre no sentido de tomar partido pela Diferença. A herança cultural lhe permitiu se perder, fugir de si e enraivecer os fãs. Poucos compositores foram capazes de ir tão longe. Mas seu último gesto sintetiza tudo: Na Fruteira contem todos os frutos e permite, finalmente, que ouçamos Os Mutantes e encontremos Júpiter. Essa situação absurda, que levou Borges a pensar os poetas fortes como criadores de seus próprios precursores – Kafka criou Browning – é “o triunfo de havermos colocado de tal modo o precursor em nossa própria obra, que determinados trechos da obra do precursor parecem ser não presságios de nosso advento, mas antes devedores de nossa realização e até mesmo diminuídos por nosso maior esplendor” (Harold Bloom – “A Angústia da Influência”).

Ainda assim, não acredito que “Na Fruteira” seja o último gesto, até porque seu húmus criativo vem da mímesis. Já ouvi murmúrios sobre “Apple Sound” e “slogan-art” – repetição do slogan poético e do som organo looped. Ou seja, novas paixões que o levariam a “errar” mais.

A grandeza da Fruteira é seu grande fracasso. Mas, sem ela, não poderíamos entender o dualismo: sem ela, não ficaria o registro de um eu eternamente errante.

8- É sobre esse aspecto que coloco em questão algumas observações de Jorge Cardoso Filho, e, Pedro Silva Marrano no texto “Do Underground para o Mainstream sem perder a Categoria: análise da trajetória de um músico gaúcho”. Em primeiro lugar porque as categorias referidas, “underground” e “mainstream”, no atual estágio da música planetária, com o colapso de vendas da grande indústria e as novas relações entre público e artista, via internet, vêm sofrendo profundas transformações. O mundo deixou de ser underground. E a tendência, ao que tudo indica, também não é o mainstream. Daí porque traduzo como o alvo principal de uma proposta poética, a conquista de sua autonomia. O poeta forte, segundo Harold Bloom, é aquele que atinge sua singularidade. Deveríamos então traduzir “mainstream”, na frase enigmática de Júpiter - “passar para o mainstream sem perder a categoria” - como o reconhecimento de uma voz própria, finalmente conquistada, o que para Júpiter passa por uma abrangência e complexidade, longe do segmentarismo. Diante de um público médio que cada vez mais tem acesso à informação em razão da internet, o mainstream é o múltiplo e o complexo. 

Daí porque me parece absurda a idéia que identificasse na trajetória do artista alguma derrota, expressando o desacordo entre projeto poético e recepção. Até porque seus projetos são de extrema plasticidade, tal e qual um caleidoscópio.



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Discografia

Com a TNT

Coletânea

Com Os Cascavelletes

EP
Álbuns de estúdio
Álbuns ao vivo
Coletânea

Carreira solo

Álbum ao vivo
Álbuns de estúdio
Coletâneas
Singles
DVD
• Six Colours Frenesi – Ao Vivo no Opinião (2014)

Formação da banda

Integrantes

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