segunda-feira, 28 de maio de 2018

POEMAS TORTOS


Por: Janaina Gomes &  Diego El Khouri



Somos  dois
errantes na jornada da existência
sem eira, nem  beira
mergulhados em sangue e luz
cansados de tanta gente 
as exceções  que nos mantém vivos
vivendo  a natureza das coisas
na certeza que sobram somente
 pó
       e nada mais.


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sexta-feira, 25 de maio de 2018

"SUICIDADOS PELA SOCIEDADE"



Por: Diego El Khouri


Esses espectros agitados, será o pensamento
Do poeta embriagado, ou suas saudades, ou seu remorso,
Esses espectros agitados em turba cadenciada,
                                 Ou  bem são simplesmente mortos?
                                                            Verlaine


     Espectros sombrios no "torniquete da consciência". "Delirium Tremens diante do paraíso". Palavras submersas no seio da imaginação, subvertendo e criando. Asas cortadas, mutiladas perante paredes calcificadas de merda.Trincheiras de guerra  e prisões subalternas, — tristes aparições nas pegadas frias da noite. Artistas na diáfana lucidez, libertos  /translúcidos (vorazes palavras de intensa sensibilidade), espécies de xamãs, na qual "as pessoas projetam suas fantasias e elas se tornam reais"... Asas cortadas...Voo razante de rapina... Peito aberto feito ferida... O olhar visionário e as "portas da percepção" blakeanas... todo um arcabouço de lamento e dor... Quantos "cientistas do imaginário" não terão sofrido injúrias, descasos em vida e miséria financeira para enfim na posteridade gozar de privilégio e estímulo?  Quantos não caíram de joelhos perante a grandeza transformadora das artes e se viram com as chagas  do sacrifício imposto perante essa sociedade cada vez mais mecanicista e pragmática? Quantos, em vida, foram vistos como meros energúmenos fracassados para então após a morte "se transformarem" em gênios? Antonin Artaud foi um desses seres dilacerantes e "estranhamente talentosos". Poderia citar inúmeros outros; nomes não faltam (Van Gogh, Camille Claudel, Allen Ginsberg, Carl Solomon, Gustave Flaubert, etc.). Sensibilidades a frente de sua época. Normalmente pessoas não convencionais, pouco atreladas ao conformismo e modas vigentes de determinado período e com um poder de criação, reflexão e ruptura acima de níveis comuns, podendo sim alterar realidades e percepções, ultrapassar fronteiras e criar novas teias de conhecimento. Incomodam poderes, chocam burguesias estabelecidas e agridem as normas de qualquer crença religiosa-hierárquica. Estão portanto, propícios às críticas, lançados aos turbilhões insanos  levados muitas vezes a total incompreensão. Antonin Artaud conhecia isso tudo. Sentiu na pele todos esses dilaceramentos, "a via crúcis do corpo e da alma"...

     Antonin Marie-Joseph Artaud nasceu em Marselha em 4 de setembro de 1896, filho de um empresário de transportes marítimos e descendente de gregos, tanto pelo lado materno como paterno. Considerado o pai do teatro moderno, teatro esse chamado também de "teatro da crueldade", dedicou toda sua vida para expressar uma visão acerca da “verdadeira e imortal liberdade”. O teatro, campo de diálogo, catarse e crítica, seria o motor para empreender através do corpo uma liberdade que chocava e proporcionava a sede do viver. Uma vida emergida em intensidade e chamas. 

Apesar das cartas que escrevia fossem a sua forma de  expressão preferida (estas ajudavam na sua luta pungente em permanecer lúcido), Artaud teve uma vida cultural agitada, dedicando-se ao cinema, teatro e  a literatura. Aos 19 anos fez sua primeira internação em um sanatório, passando toda uma vida em sucessivos tratamentos psiquiátricos. Em 1937 foi internado no sanatório Le Havre-Rodez, onde passou nove anos e escreveu as Cartas de Rodez. Nas cartas pedia para médico eliminar o tratamento de eletrochoques. Foi em Rodez que Antonin Artaud escreveu, por exemplo, em 1945, o livro "Viagem ao País dos Tarahumaras", lembranças de suas viagens pela Sierra Tarahumara, no México, no intuito de conhecer a tribo com o mesmo nome. Sua jornada foi um misto de criação e dor, ruptura e internação. Outro nome que se aproxima dessa mesma metafísica foi o artista plástico holandês Van Gogh (1853-1890). Este dizia que a pintura estava cravada na sua pele. Assim se referia a esse ofício. Tinha uma visão sublime de entregar-se ao além, a Deus e as forças primordiais da existência. Inquieto resolveu tornar-se pastor como seu pai e foi reprovado em teologia no ano de 1878. Partiu para Bélgica com  o objetivo de evangelizar os trabalhadores de uma mineração de carvão.  Conheceu a extrema pobreza e começou a viver com os pobres. Fazia do chão sua cama, das pedras o travesseiro. Sua falta de banho, que o fazia ter um cheiro muito desagradável, incomodava as demais pessoas e seu jeito taciturno assustava a população local. Viveu com paixão tais  buscas. Na pintura posteriormente viveu também dessa forma. Pintou mais de 800 telas em vida apesar de ter ingressado  tarde nessa arte. Durante os últimos 3 anos de sua vida chegou a pintar cerca de 500 obras e  em seus últimos 69 dias deixou sua assinatura em até 79 delas. Situações dramáticas acompanharam toda sua existência até dar por fim sua própria vida quando  ele disparou uma arma contra si mesmo em 29 de Julho de 1890 ("mas existe uma versão recente onde se plantou que o disparo foi efetuado acidentalmente por dois rapazes que brincavam com uma pistola"). Uma alma inquieta, sedenta, ardendo em febre.

     Para alguns artistas "vida e arte não pode ser dissociada". O elemento de criação parte de dentro para fora interagindo e mesclando no olhar sutis gradações de sensações que mesclam realidade e sonho. O mergulhar em si mesmo é tarefa difícil, para poucos. Só esses párias para compreender na plenitude tais vicissitudes . Artaud entendia muito bem isso e não foi atoa que escreveu a obra "Van Gogh — Suicidado pela sociedade."  É "preciso penar muito para chegar na essência". Artaud diz que oartista plástico holandês  foi empurrado para a morte pela sociedade. Essa sociedade que não  entende e excomunga tais sensibilidades. Em Paris no ano de 1947, poucos dias antes da abertura de uma exposição de Van Gogh, o galerista Pierre Loeb pediu ao  Antonin Artaud que escrevesse sobre o pintor. Essa obra vem pra afirmar  o espírito do olhar "não familiar" (usurpando um termo do psicanalista Sigmund Freud) dentro dessa sociedade mecanicista. As dores causadas e o sentimento de exclusão dentro desse caráter social foram empecilhos que sofreram   grandes nomes  das artes ao longo da história. Dizia o Artaud : “Durante muito tempo me apaixonou a pintura linear pura até que descobri Van Gogh, que pintava, em lugar de linhas e formas, coisas da natureza morta como que agitadas por convulsões." Essas convulsões  e a potência elevada de suas criações e, por consequência, dessa sensibilidade à flor da pele, causou (e causa) essa ideia do louco, do mártir, do excluído dos demais. Nesse trabalho, Artaud faz sua defesa própria usando a figura do pintor.  Não há loucura, nem delírio; é a sociedade que sempre está um passo atrás dessas grandes "sensibilidades selvagens". 

quarta-feira, 23 de maio de 2018

SER TÃO... DIMENSÕES MÚLTIPLAS!

Por: Joka Faria

Por entre as canções de Caetano Veloso, nos seus setenta e cinco anos. Lanço uma flecha no espaço, dança a mulher maravilha diante de mim.
Ítalo Calvino chega a mim numa flecha quântica, crianças brincam ao contemplar o voo dos urubus. Na era de aquário, um poema inquietante de Ricola, torno-me mutante. Dialogo com a poética de Edu Planchez. Mergulho nos quadros e na poética de Diego El Khouri. Ser tão dimensões múltiplas. E Deus e a Deusa dançam dentro do meu coração. Cantemos a vida, tarde de agosto, um sorvete de queijo no intervalo de um estudo de concurso. Mergulho nas páginas do livro e diante de mim, Marco Polo e Kublai Khan ali vivos num texto de Ítalo Calvino.
Interconexões no viver. Cantai-vos ó pássaros da vida e alguém posta no face o tempo de brigar e o mesmo de amar. Escolhemos entre amar e brigar. A vida corrida do povo que acorda nas madrugadas, trens, ônibus e o cansaço. E cadê a poesia para esta gente? Quem se encontra numa meditação? Viver entre trabalhar e não trabalhar. Sentir-se vivo como cantou Caetano “SEM LENÇO NEM DOCUMENTO”, afinal não temos nada. Nascer, crescer, viver amar e morrer e novamente eternidade afora. Quando daremos um salto quântico?
E Deusa e Deus estão dentro de nosso coração esperando serem sentidos e amados. Os poetas Sufis cantam ao amado pai que está em segredo.
Ser tão múltiplas dimensões
A cidade plena na manhã de uma quinta feira nada de telefonemas para ver o sorriso das crianças e o chorar pela mãe. Nas canções do Bola de Meia, as crianças se encantam. OUVEM o Bola e as canções de Beto Quadros, lindamente apresentada sua arte por uma professora às crianças.
Sorrimos ao Sol de Agosto, cade a chuva? Promessas para ver o Mar? Promessas para ir a Mantiqueira? E concursos e mais concursos e sempre “sem lenço e documento”, “pelado pelado nú com a mão no bolso” como canta Róger no Ultraje a rigor.
Cadê aquela saia vermelha e você mulher dançando para mim. E uma linda mulher dança no instagram, nem sei qual música. Nunca vi o dançar Sufi, danças circulares, cirandas, Gaia dança e faz gerar universos.
Ser tão… Venezuela, Brasil. O desamor não deve suprimir o amor!
América uni-vos em torno da liberdade de seus povos. Dancemos ciranda nas escolas, criemos uma educação que liberte como no sorriso de uma professora no jornal Hoje.
Ser tão…
Dentro de mim entre o morrer e o renascer, Fênix fênix fênix. Eis Deus e Deusa a dançar dentro de mim. E quando daremos o salto quântico?
Ser tão…
Minha alma clama por Ser!
Eu cansado, devemos resurgir como a AVE FENIX. Ser tão… Ser tão… Ser tão…

terça-feira, 22 de maio de 2018

OUVINDO MORPHINE

Por:Edu Planchêz 


e tudo que guardo nas fronteiras do que penso,
cabe num grão azul de luz,
numa jarra de néctar de jenipapos,
nas gamelas esculpidas por meu pai na lama da casa,
e você nem sabe que um dia sem noite paira nos escombros,
nas palhas que se movem
e para o mistério do que escrevo,
preciso convocar o sufi malungo diego el khouri
para que destampando seus olhos
e os outros olhos do que não sei descrever
se revele no desintegrar dos fantasmas
para lá das muralhas da sala,
para lá das muralhas do ventre,
dos carcomidos livros...
há algo sem sombras na pele da neve,
na pele dos amigos,
no cone das coisas que cabem na geometria
da porta que se abre agora
que escrevo ouvindo morphine

segunda-feira, 21 de maio de 2018

PELAS VOLTAGENS DE JACK & JACK

Por:Edu Planchêz

acendendo um, dois traços,
o filete da lâmpada,
o nosso aparecimento no mundo
nas camadas do chão de cal escuro,
do chão perfeito dos que pendem para a esquerda,
para o centro da molécula do café
haendel de peruca branca, bem sério,
nos observando de uma capa, de uma estampa,
do alto do grão de arroz
e a casa sempre nos espera,
chuvosa de livros,
fogão clamando por panelas ferventes
minha fêmea aprende uma das máximas de lou reed,
a que nos chama para o parque dos selvagens,
da selvageria
os remos aqui estão,
sigamos para o rumo dos albatrozes,
nos encontremos com jack london aqui mesmo,
em luna dourada,
nos arredores da cidade arte,
nas páginas de suas histórias
diego el khouri movido pela máquina vida
nos arrasta pelos pântanos,
pelas voltagens de jack & jack

quinta-feira, 17 de maio de 2018

POR FAVOR ME CENSURE

Por Wagner Nyhyhwh

por favor
me censure
ou encherei sua buceta de pintos
encherei seu pinto de bucetas
encherei seu cu de bucetas e pintos.
por favor
me censure
ou te seduzirei
e te acusarei de zoofilia
pois não passo de um animal afinal
animal só às vezes racional.
por favor
me censure
ou te darei um filho
e te acusarei de pedofilia por amar nosso filho.
por favor
me censure
ou só vou parar
quando seu tendencioso-conceito acabar
em outras palavras
não vou parar.
por favor me censure
antes que comece da minha não-arte a gostar.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

terça-feira, 8 de maio de 2018